Artigo – O Jornalismo no final do Século 20
Autor: Sebastião Breguez
Doutor em Comunicação e professor da Universidade Federal de Viçosa/MG
É fim-de-ano. Renova-se mais uma vez a dialética da "morte" de um ano e "nascimento" de outro. Agora com mais emoção e expectativa, pois, mudamos de século e, em 2001, de milênio. É neste contexto que como professor de jornalismo avalio as mudanças do jornalismo no século XX, principalmente, as relacionadas com o Estilo Jornalístico - a Redação Jornalística.
O Estilo Jornalístico ou a forma com que o jornalista apresenta as informações para o leitor não apareceu de repente na História do Jornalismo. Mas foi o resultado de lenta elaboração histórica que está intimamente relacionada com a evolução do próprio conceito de jornalismo. Esta História, a partir dos meados do século XIX, apresenta perfeita relação com o desenvolvimento total da sociedade. Podemos dividi-la em três fases: Jornalismo Ideológico e Opinativo, Jornalismo Informativo e Jornalismo Interpretativo.
PRIMEIRA FASE - 1900-1920 - O ESTILO OPINATIVO E IDEOLÓGICO
O que caracteriza o Estilo Jornalístico, neste período, é o excesso de adjetivismo no texto das reportagens, o uso do nariz de cera para começar a matéria, as reportagens longas e a falta de preocupação com o leitor. Também a programação visual privilegiava o texto longo com pouca imagem.
Jornalismo doutrinário e moralizador é feito com ânimo proselitista a serviço das idéias políticas e lutas ideológicas. Trata-se de imprensa pouco informativa e cheia de comentários.
SEGUNDA FASE (1920-1980)
1ª ETAPA 1920-1945 - O ESTILO INFORMATIVO E A ERA DOS MANUAIS
2ª ETAPA 1945-1980 - A DITADURA DO LEAD IMPERA NAS REDAÇÕES
A primeira etapa da segunda fase -Jornalismo Informativo- vai se definindo a partir do fim da I Grande Guerra. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, aparecem novas formas de redação das notícias, um novo estilo que se apoia de modo fundamental na narração ou relato de fatos e acontecimentos. O novo estilo adapta formas de expressão literária desta época para transmitir informações e notícias com eficácia e economia de palavras. Ele aparece com força e vigor que cria novas formas de expressão literária com regras próprias estabelecidas nos Manuais de Redação.
É o aparecimento da técnica do lead (guia ou orientação para o leitor) em que o jornalista anuncia no primeiro parágrafo os cinco elementos da notícias: O QUE, QUEM, QUANDO, ONDE, COMO, POR QUÊ. Este estilo chegou ao Brasil na década de 50 com os primeiros Manuais de Redação adotado por jornais como Diário Carioca e Tribuna da Imprensa. O Estilo Informativo teve, desde o seu início, três objetivos básicos em que buscava firmar-se: a naturalidade de expressões, a clareza e a concisão. É fácil imaginar-se que o aprendizado coletivo destas gerações de jornalistas (pois os Cursos de Comunicação só aparecem na década de 1960 ) em busca de maior clareza acabou cristalizando-se nesta forma peculiar de expressão literária. Também o aparecimento do Rádio foi importante. O texto para o Rádio tem que ser menor do que o para o jornal impresso para não cansar o ouvinte. Ai aparecem os quesitos para o bom texto jornalístico : clareza, concisão, densidade, exatidão, precisão, simplicidade, neutralidade, originalidade, brevidade, variedade, atração, ritmo, cor, sonoridade, detalhismo, correção e propriedade. Destes, apenas três são considerados os mais importantes: clareza, concisão e introdução que capte a atenção do leitor.
O desenvolvimento da sociedade de consumo após o fim da II Guerra após 1945 impôs novas formas de apresentação gráfica, acompanhando o desenvolvimento da tecnologia e da indústria gráfica. A concorrência com a TV, a partir de 1950, também colocou novos desafios para o jornal. Tudo teve que mudar e se adaptar às inovações, concorrência e mudanças nos hábitos de leitura do consumidor. Na década de 60 e 70, por exemplo, no Jornal do Brasil, o repórter era obrigado a usar a técnica do lead para introduzir a notícia para o leitor: "o uso do lead e da gravata eram fundamentais no JB", diz um veterano.
De 1960 a 1980, a Ditadura do Lead predominou nas redações, tolhendo, às vezes, a criatividade do repórter ao escrever sua matéria. Mas com o aparecimento das revistas semanais de informação com Veja (1968) e a chamada Imprensa Alternativa ou Nanica com O Pasquim (1969) a técnica do lead foi modificada aos poucos, cedendo à criatividade e o desafio criador dos novos jornalistas. Ai apareceu o Estilo Interpretativo.
TERCEIRA FASE - 1980 AOS NOSSOS DIAS - O ESTILO INTERPRETATIVO
O jornalismo, diante da concorrência com o Rádio e a TV, teve que mudar. Ele tem que apresentar a informação diferentemente dos veículos audiovisuais e busca mostrar –mais- detalhes ao leitor. O jornalismo aí reveste de profundidade - as reportagens longas das revistas semanais -Veja e Istoé , além dos jornais alternativos como Opinião, Movimento, Ex, Debate & Critica, etc- os grandes jornais mudam aos poucos seu estilo de redação formalista e tradicionalista. Aliviam o clima da Era da Ditadura do Lead, deixam o repórter usar um pouco mais de imaginação.
Já há alguns anos que os Manuais de Redação dos grandes jornais não definem o lead como resposta às perguntas O QUE, QUEM, QUANDO, ONDE, COMO , POR QUE.
Definem lead como a forma de introdução da notícia em que o jornalista apresenta o aspecto mais interessante para o leitor (veja MANUAL DA FOLHA DE S. PAULO). O uso da imagem e da cor como recurso gráfico impôs-se no novo jornalismo.
Texto curto, com adjetivos bem escolhidos para chamar a atenção do leitor e o uso de imagem (foto, ilustração, gráfico) na maioria das reportagens. Eis as novas modificações da imprensa.
O que chama a atenção é que o jornalismo mudou, mas as escolas de jornalismo ainda não se deram conta e ainda ensinam o jornalismo ultrapassado. Os velhos livros básicos como TECNICAS DE CODIFICAÇÃO EM JORNALISMO, de Mário Erbolato, ou IDEOLOGIA E TÉCNICA DA NOTÍCIA, de Nilson Lage, têm que ser atualizados com a nova realidade. Senão nossos alunos irão chegar ao mercado de trabalho com modelos ultrapassados e terão que reaprender tudo. Vale a pena rever o assunto e atualizar tendo como base o mercado.
# Jornalista, Doutor em Comunicação, Professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG).
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Um comentário:
Sebastião Breguez usava diploma falso na UFV!
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