quinta-feira, 26 de março de 2009

A Pauta

A Pauta Jornalística

A pauta jornalística não se trata do produto final, mas é o começo do trabalho jornalístico. Não faz uso de parágrafos e sua linguagem é coloquial. Trata-se de um roteiro que deve ser cumprido e normalmente tem o mínimo de 20 linhas. Infelizmente, com a pressa peculiar das redações, muitas vezes, o repórter tem como pauta um recorte de jornal ou um release de assessoria de imprensa. Não existe um esquema determinado de cumprimento de pauta, cada repórter faz o seu. Isso quando não aparece sempre alguma fonte na redação, o que é comum.

A pauta tem as seguintes partes:


1. Resumo do Fato;
2. Direcionamento (Perguntas ou Hipóteses) – São geralmente três perguntas;
3. Relação das Fontes (Quem o repórter deve procurar) – Nomes, Endereços, Telefones.
Definimos pauta como uma designação prévia dos principais acontecimentos que são cobertos jornalisticamente no dia-a-dia. Ou seja, um esquema minucioso de um levantamento pretendido pelos meios de Comunicação para fins de elaboração da matéria jornalística. Para o cumprimento de pauta, utilizamos duas principais fontes: a pesquisa de campo (entrevistas) e a pesquisa documental (os arquivos e dados).

No entanto, não se deve permitir que a pauta iniba a criatividade do repórter. O repórter pode e deve usar da liberdade e seguir o próprio caminho sempre que necessário, sem deixar de cumprir o enfoque e as questões levantadas por sua pauta. Dependendo do assunto, a pauta deve ser completa (com todos os dados possíveis) ou resumo (que contém a relação dos principais tópicos). Em ambos os casos, devemos ter nomes, endereços, telefones e/ou e-mails dos entrevistados.
O profissional encarregado de elaborar as pautas é o pauteiro, cuja função é fazer todos os roteiros e relações dos planos de reportagem com os assuntos que devem ser levantados pela reportagem na rua, ou apurados na redação, por telefone. Ele é uma peça importante e entre as suas funções está a de ler tudo que lhe cair nas mãos, mas sempre na tentativa de encontrar a chave de uma boa matéria.
O pauteiro tem as seguintes atribuições:
1. Se manter a par de todos os acontecimentos do dia,
2. Ler os jornais concorrentes e ouvir programas noticiosos de rádio e TV,
3. Propor entrevistas com personalidades (especialmente autoridades e celebridades),
4. Idealizar matérias polêmicas ouvindo todas as partes,
5. Ver a repercussão de acontecimentos no Brasil e no mundo que tenham influência local. Exemplos de Pauta Jornalística
Pauta-Resumo:
Repórter: .................................................................
Assunto: Sindicato/Professores
Vamos ouvir o Sindicato dos Professores: a entidade vai cumprir a determinação judicial de voltar às aulas após o decreto de ilegalidade da greve? Como está o andamento das negociações? A Secretaria de Educação continua determinada a punir os grevistas? Vamos ouvir a Secretaria de Educação: Em que andamento estão as negociações com o sindicato? Ainda há a intenção de punir os grevistas mesmo com o retorno às aulas? E se o sindicato não cumprir a sentença jurídica? O Sindicato dos Professores fica na Rua Santa Fernanda, 154, no Centro da Cidade A Secretaria de Educação fica no Edifício Professor Zoroastro, no bairro de Santo André.
Pauta Completa:
Repórter:..............................................................
Assunto: Hospital/Fechamento
Ontem, no programa do Carlos Tamandaré, foi feita uma denúncia de que a Unidade de Pediatria Santos Cosme e Damião iria encerrar suas atividades por causa de problemas financeiros, embora a unidade seja um hospital do governo e que, a partir da próxima semana, todos os internamentos seriam efetuados nas Unidades Pediátricas dos principais hospitais públicos da cidade.
A notícia, claro, causou a maior confusão, principalmente na população carente da cidade, que responde por 90% da clientela do hospital. O mais estranho, até agora, é que a Secretaria de Saúde não se pronunciou a respeito. Por esse motivo, vamos procurar ouvir não apenas a Secretária de Saúde, a médica Drª Graça Lemos, bem como o diretor do hospital, o médico pediatra Cecílio Regino. Afinal de contas, a informação procede ou não?
- Se procede, vamos apurar as verdadeiras causas que levarão ao Governo a adoção de tais medidas;
- Vá ao Hospital Santos Cosme e Damião, no bairro da Comunidade, que fica por trás do Hospital Universitário para ouvir médicos, enfermeiros e familiares de pacientes ali internados ou atendidos. Faça um levantamento completo sobre a situação da unidade: condições de funcionamento, instalações, equipamento, corpo médico, higienização (será que a gente consegue descobrir algum caso de infecção hospitalar?)
- Levante junto à Secretaria de Saúde quantas unidades pediátricas tem em toda a cidade e em todo o Estado e quantas crianças estão internadas atualmente, bem como o atendimento diário no ambulatório.
- Para que o repórter se situe melhor, o Hospital Pediátrico Santos Cosme e Damião existe desde 1825 e era ligado à Santa Casa e em 1970 foi incorporado ao então Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social – INAMPS (Hoje desmembrado em SUS e INSS) e sempre prestou grandes serviços à população carente da Região Metropolitana. Agora a história é com você. Vamos conferir tudo isso? Explore o assunto por vários ângulos, ok?

Pauta-Resumo:
Repórter: .................................................................
Assunto: Ratazana/Fuga
Vamos manter nossa vigilância e por telefone, saber como anda o inquérito na SDS que apura a fuga do ex-agente Ratazana, da Barreto Campelo. Vai haver a reconstituição da fuga? E o encarregado da subestação da Celpe em Itapissuma continua preso? E o que a polícia está fazendo pra recapturar o Ratazana?
Artigo - PAUTA & JORNALISMO
José Paulo Lanyi Tenho exercido várias funções jornalísticas ao longo dos anos. Eu e a torcida do Corinthians. Recomendo esse rodízio. Com o tempo, a gente consegue ter uma visão mais acurada, não só do conteúdo quanto da própria sinergia do veículo em que trabalhamos. A reportagem - tida e havida como nobre - justifica os seus densos louros, mas raras vezes nos permite analisar um jornal - seja lá em que mídia for.
Na televisão, poucos repórteres participam da reunião de pauta. São premidos pela correria infligida pelas marcações, pela apuração recorde, pelo áspero chicote da chefia de reportagem que, por sua vez, tem que atender ao bom-senso para fechar a tempo. A ausência do repórter nas reuniões - refiro-me à maioria e ao jornalismo diário - é um óbice para quem tenta ‘enxergar’ o jornal. Não basta assistir no ar. É na reunião de pauta que se pescam as sutilezas do que seja a linha - mestra a ser seguida.
Nesse aspecto, o pauteiro (ou produtor) é um privilegiado. Ele tem a seu dispor um arco de informações significativamente amplo - porque vai atrás e porque é assediado pelos assessores de imprensa, telespectadores e demais agentes sociais. Mas não só isso. É uma função que estimula o filtro que resulta da análise e do embate de idéias com os editores.
De forma geral, quando se trata de aprovar ou rejeitar uma pauta, o sim e o não são justificados, o que enriquece. É claro que há os editores prepotentes que dizem ‘quero’ ou ‘não quero’, e ponto final. Mas, de modo geral, explica-se. Podemos concordar, discordar, achar legal ou absurdo, não importa: saímos da reunião mais experientes - por vezes, mais nervosos também.
Por que, então, o pauteiro é um injustiçado? Porque poucos lhe dão o crédito ao criar e pôr a matéria em pé. Olhe para a tela e confira: quantas vezes você vê o nome do produtor de uma reportagem? Respondo antes: raras. É como se ele trabalhasse na cozinha engordurada do Jornalismo. Essa é mesmo a percepção geral, embora velada. Falo disso com a segurança de quem tem vivido essa ciranda de funções: quem quiser glamour, status ou, no mínimo, o justo reconhecimento profissional evite a pauta: seja repórter, editor ou âncora.
O pauteiro é tido como um subalterno, um carregador de piano, um zagueiro. Não, ele é o goleiro do Jornalismo: quase não aparece. Se acerta é obrigação; se os outros erram, afunda junto; e o mérito da vitória é de quem faz o gol.
Fonte: Site Observatório da Imprensa
Artigo – “É só um errinho de apuração”
Autor: Antonio Lemos Augusto – Observatório da Imprensa
Um erro de apuração no jornalismo pode provocar estragos que o jornalista sequer imagina. Erros que o autor da matéria até considera "bobos" ou "inofensivos", mas que serão recebidos pelos leitores de determinada forma que poderão, sim, provocar danos ou contribuir para a desinformação.
O fato é que a apuração jornalística é parte íntima e necessária da técnica jornalística. Jornalista tem que saber apurar corretamente, e ponto. A apuração correta se relaciona a todos os detalhes do texto: ao nome da fonte escrito de forma adequada, aos fatos narrados acertadamente, aos porquês devidamente explicados... E esse preceito está relacionado a qualquer matéria: do buraco de rua à queda do avião, da denúncia contra o governador ao Boletim de Ocorrência de um cidadão desconhecido da periferia.
Como o lixeiro - Erros de apuração estão relacionados também a falhas éticas. Afinal, erros de apuração podem colocar as pessoas citadas na matéria em maus lençóis. O jornalista "confunde" uma informação médica e a fonte da área de medicina será ridicularizada em seu emprego, porque sempre ficará a dúvida: quem errou? O jornalista acredita que roubo e furto são sinônimos e, sem imaginar, calunia alguém. E assim por diante...
Erro de apuração, em síntese, é como o médico que não sabe usar o bisturi ou o engenheiro que não calcula direito a quantidade de tijolos. O jornalista precisa, às vezes, se colocar no lugar de quem é fonte ou alvo de matérias. Trinta linhas, no pé de uma página preto e branco, interna, podem acabar com a reputação de qualquer um.
É como o lixeiro que – correndo atrás do caminhão de lixo – deixa, sem querer, cair um saco com restos de peixe, bem em frente à sua casa. Na correria, ele sequer viu o deslize. Não viu os efeitos do lixo no chão. Não viu o cachorro de estimação de sua casa rolar no lixo e, depois, ser abraçado pelo filho. É como o erro de apuração... O jornalista joga para a sociedade e nem imagina o mal que fez.
Os principais passos da Apuração Jornalística
Fase 1: Elaboração da Pauta Pista Inicial + Sondagem Inicial + Preparação da Pauta
Fase 2: Pré-Produção Análise das Fontes + Seqüência de Abordagem
Fase 3: Produção Confronto de Informações + Checagem
Nos próximos textos, vamos destrinçar cada uma destas fases. Esse esquema foi apresentado pelo jornalista colombiano Daniel Samper, em 1991, em nome do Centro Técnico da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Samper, na época, era correspondente do jornal El Tiempo, de Bogotá e redigia também para o semanário espanhol Cambio 16.
Os principais passos da Apuração Jornalística
Fase 1: Elaboração da Pauta
Trata-se da sondagem inicial, da apuração preliminar, da exploração das fontes, documentos e publicações sobre o assunto, numa pesquisa prévia da formulação da pauta. É uma fase de informações para sustentar uma investigação, para testar a credibilidade das fontes. Enfim, ajuda a estabelecer a viabilidade da pauta (é possível de ser apurada ou não?), bem como a sua justificativa.
Toda matéria tenta responder a uma curiosidade ou lançar uma hipótese. Nada de confirmar o que já se sabe, mas sim, fornecer dados novos. Depois da sondagem inicial, um bom apoio é o plano de ação com o qual se espera obter informações:
Plano de Ação
• Relação de informações que já obtivemos;
• Relação de informações que ainda faltam;
• Lista de fontes: onde localizar a informação que nos falta, quais as fontes mais importantes e consistentes.
O plano de ação ajuda a organizar o que a reportagem quer demonstrar. Uma pauta que se preze define o rumo do trabalho, o ângulo, a escolha de uma ou várias nuances do que será apurado, qual o recorte da realidade, e, especialmente, a nova abordagem da questão. Pauta também é freqüentemente confundida com o tema. O que precisamos saber é o que rende matéria jornalística do que rende um livro ou enciclopédia.
Precisamos, finalmente, fazer uma avaliação minuciosa de uma pauta, para testar sua qualidade e sua viabilidade:
A pauta foi bem preparada?
• O repórter mostra desconhecimento das informações fornecidas pelas fontes na fase de apuração?
• Ele apresenta contrapontos às informações das fontes?
• Personagens escolhidos são pouco relevantes ?
• Dados apurados atualizam questão abordada na pauta?
• A premissa está forçada, equivocada ou fundamentada em preconceitos?
• Há qualquer problema de enfoque ou de abordagem?
• O levantamento prévio de informações evitaria falta de atualidade?
• Na apuração, as informações contradiziam a pauta?
• A matéria precisa de justificativas, sem as quais não teria razão de ser?
Os principais passos da Apuração Jornalística
Fase 2: A Pré-produção
Durante o processo de avaliação estratégica das fontes, não pode sair do horizonte a obviedade de que as fontes defendem seus interesses acima de tudo. Os jornalistas, algumas vezes, usam de determinados critérios para avaliar as fontes, a fim de que se evitem dúvidas e furos de prazo:
• Hierarquia da autoridade: A fonte é uma pessoa pública ou alguém próximo a ela? Isso porque uma fonte oficial, presumimos que dificilmente mentiria. Além do mais, ações e opiniões tomam caráter oficial.
• A produtividade: Fontes institucionais fornecem material suficiente para uma notícia. Trata-se da quantidade e qualidade de informações que uma fonte pode dar. Nesses casos, muitas vezes, as assessorias de imprensa são parceiras neste aspecto.
• A Credibilidade: As fontes devem ser tão confiáveis quanto as informações fornecidas. Dessa forma, pode-se construir uma relação profissional entre a fonte e o repórter. Assim, as fontes não têm o mesmo valor e disso se conclui que acesso à mídia é acesso ao poder.
Veja agora os aspectos importantes da análise das fontes:
• As relações, o valor, a situação, os riscos e a credibilidade das fontes;
• Os conceitos complementares, a informação que supomos que sabem e a relação que imaginamos entre as fontes e o fato;
• Até que ponto não estamos sendo usados por fontes legitimadas por sua autoridade, credibilidade e produtividade e não fazemos avaliações isentas do real valor das informações Abordagem de fontes por ordem de importância:
• Antes de abordar a fonte, fazer uma pesquisa sobre ela (sondagem inicial);
• Para isso, melhor sondar primeiro as fontes secundárias, documentais e técnicas, que são muito mais úteis para dar detalhes a confrontar com a fonte principal.
• Pode ajudar, e muito, ordenar a abordagem partindo da fonte de menor para a de maior importância. • Isso amplia o conhecimento que se tem do fato e permite que se chegue melhor preparado para a segunda entrevista.
• Na dúvida, deixe cada fonte preparada para uma consulta posterior (pegue e-mail, telefone, deixe uma porta aberta para um novo contato).
Abordagem de fontes por ordem de crítica:
• Comece pelas fontes desfavoráveis;
• Prossiga pelas fontes técnicas e neutras (que não têm interesse no fato investigado)
• Termine a matéria pelas fontes favoráveis;
• Esse método permite ter um primeiro marco crítico, que dá uma medida pelo interesse da notícia. Depois, o filtro técnico pode dar argumentos para confrontar as fontes desfavoráveis e parâmetros mais equilibrados para a entrevista com fontes favoráveis.
Por fim, podemos comparar a informação com um “tiro ao alvo”, em que devemos abordar dos menos importantes para os mais importantes. Do contrário, pode-se ir à entrevista de um personagem principal sem saber as informações suficientes. Veja a figura abaixo:
Os principais passos da Apuração Jornalística
Fase 3: A Produção
Trata-se do contato com as fontes. É a oportunidade de defesa daquele que foi citado na notícia e a chance do repórter detectar erros de avaliação da pauta, que podem ser corrigidos à luz de novos fatos. Cada apuração abre novas lacunas de informação, que carece de maior investigação. É necessária uma visão geral para saber o que é preciso levantar para ir em frente:
Quando o Repórter fica refém da fonte:
Pende para um lado da informação;
Engole as versões sem questionar;
Não esgota a capacidade de informação do entrevistado;
Aceita opiniões de apelo fácil e pouco fundamento;
Atribui atitudes de uma fonte se baseando no depoimento da outra;
Aceita informações de crédito duvidoso e dificilmente verificável;
Por conta disso, o jornalista não pode se contentar com apenas um ou poucos dos diversos lados da história. É necessário que se valide a informação com pelo menos duas outras fontes. O repórter não pode bancar uma afirmação sem confirmá-la. Pela figura abaixo, podemos analisar os níveis de apuração:
A ilustração acima demarca quatro posições-limite, exponenciais de apuração e abstrai as situações intermediárias e as nuances entre cada um dos quatro níveis abordados. Ajuda, por exemplo, a definir o que fazer diante de uma apuração que tem:
- Informações precisas, mas que são poucas?
Apurar mais - Muita informação, mas que é imprecisa?
Fazer checagem dos dados - Informação pouca e imprecisa?
Refazer tudo - Informação precisa e abundante?
Publicar a matéria Ao fim de tudo, o editor deve filtrar a matéria em uma lista de checagem ao ler a matéria apurada por um repórter:
• Os nomes, títulos, cargos e informações da matéria foram checados?
• Os telefones e e-mails foram testados e checados?
• Todas as citações estão precisas e corretamente atribuídas?
• As informações de pesquisa estão completas?
• As informações do lide estão respaldadas?
• A matéria é justa? Vai aborrecer a fonte?
Todos os envolvidos foram contatados e tiveram oportunidade de falar?
Fizemos algum juízo de valor?
Alguém vai gostar da matéria mais do que deve?
• O que está faltando?
Ao final de tudo, os editores ainda precisam passar por mais um filtro, o da Edição Cética:
• Como saber disso?
• Por que o leitor deveria acreditar nisso?
• O que significa a suposição por trás de uma sentença?
• Se uma matéria diz que certo fato pode levantar dúvidas na cabeça das pessoas, quem insinuou isso?
O repórter?
Uma fonte?
Um cidadão?
Dessa forma, a disciplina de verificação é um suporte para a edição, que melhor se realiza quanto mais planejado for o processo de produção da notícia.

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